Eu queria muito escrever sobre o filme Cão sem Dono do Beto Brant e Renato Ciasca, até comecei. Além de ser um filme lindo, a cena da Marcela, para quem assistiu o filme sabe do que estou falando, com febre deitada na cama, não sai da minha cabeça. Foi a maneira que encontrei para tornar a minha enfermidade mais interessante, glamourosa. Também é o princípio para entender o delírio febril. Não dá para ter equilíbrio ou escrever com febre. Dá para no máximo fazer associações alucinógenas de imagens que vagueiam pelo teu espírito. Além da febre, o céu nublado e a chuvinha fina contribuem para o estado poético. Mas vale tentar ser forte. Tentar organizar as idéias num texto é um bom começo para se livrar da inquietude causada pelo delírio. Mas é difícil, uma vez tomado por essas sensações, se livrar delas pelo meio racional é quase impossível. O jeito é pensar num poema, afastar as associações mais complicadas, como a que eu pretendia fazer ao escrever sobre o filme e se entregar ao fluxo desconexo e quente da alma no corpo com febre.
Mas voltando ao filme, a minha indagação era, o que faz um filme ser bom? Eu acredito que seja a sensação que ele te faz sentir ao vê-lo e que ficará com você por um tempo. Seria o filme vivo. Esses filmes que passam a te acompanhar e que tornam a sua vida um pouco mais interessante.
Cão sem dono é um filme que perturba. Perturba pela inação do personagem principal, Ciro, o jovem formado em letras, tradutor de russo e que tá passando por um momento difícil de incertezas. Essa inação é meio que abalada quando Ciro conhece Marcela, uma jovem modelo cheia de sonhos e disposta a realizá-los. Marcela é o contraponto na vida sem rumo de Ciro, ela não representa para ele só o amor ou a possibilidade de crer em sonhos. Ela representa o desequilíbrio e a ruptura com o conforto de ser sozinho e de não agir.
Se a inação é pertubadora, porque em tempos modernos estamos acostumados com muito movimento, muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. O espectador fica mais perturbado quando Ciro escrevendo, na tentativa de romper com a sua inação,escreve:
"eu preciso de um coração descompassado e sem melodia". Por que pertubador se essa frase só expressa a vontade de se apaixonar. Para a maioria das pessoas o melhor é que a paixão seja dosada, compassada, sem muitos sobressaltos. Para Ciro não, o personagem inativo finalmente encontra uma inspiração e com a singularidade de sua personalidade deseja o que é mais instável. E são esses dois contrastes, a inação e as emoções a flor da pele que fazem de Cão sem dono, um filme febril e muito sincero. Perfeito para dias nublados.
vendredi 4 avril 2008
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1 commentaire:
heheh isso é otimo, sempre que estou com aquela cólica, e sem remédio, andando pela rua, me lembro da juliet lewis em assassinos por natureza, quando ela foi picada por uma cobra, durante a fuga... ela nao pode parar, então ela faz de tudo pra conseguir ficar em pé, apesar de todo delírio, éotimo!!!!!!!!!!! beijos
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