lundi 19 mai 2008
Falsa Loura - uma metáfora do que foi o cinema e do que é cinema brasileiro
Foi preciso correr muito para chegar a tempo na sessão. Por sorte a porta da salinha escura ainda estava aberta e todas as luzes acesas. Não demorou muito para que a sala se tornasse negra. Sem publicidade, start: duas amigas dançam ao som de um bolero numa academia com um grande espelho. Do lado de fora o dia anoitece. A cena dura uns cinco minutos. E nessa você foi, foi para fábrica, onde uma operária de jaleco azul trabalha. Esse é o começo de Falsa Loura, novo filme de Carlos Reichenbach. O filme narra a história de uma jovem muito bonita, moradora da periferia de São Paulo e operária. O mais importante do filme não é a história da moça bonita, meio arrogante mas justa e trabalhadora que se ilude por ingenuidade. "São tantas" características, essa expressão vem a calhar muito bem, já que o filme transita pelo brega. Mas voltando a moça, é uma personagem rica em aspectos psicológicos, adjetivos e variáveis de sentimento. Não é uma heroína,é uma pessoa comum que vive a mercê das circuntâncias e que também provoca as causas. Mas como tinha dito antes, o mais importante não é a personagem principal mas a forma do filme que o torna fantástico. Antes de ir ao cinema estava lendo a coletânea de entrevistas com o Rogério Sganzerla da série encontros, lançada pela editora Azougue. Ao assisitir o filme era como se ouvisse a voz de Sganzerla que antes de ser cineasta, foi crítico e ficou muito conhecido por sustentar suas idéias e críticas negativas a vários cineastas do Cinema Novo. A voz de Saganzerla saia do próprio filme. Falsa Loura para mim é um filme da Belair, um filme de vanguarda mas que dialoga e traz à cena idéias estéticas e propostas de pensar e fazer cinema do final da década de 60 até meados de 70. Da época de quando o próprio Carlos Reichenbach começou a filmar. Não é atoa que o filme é rico em citações faladas e visuais, a cena do letreiro filmado em diagonal, uma cena típicamente de Sganzerla, falar de Zé do Caixão, o surealismo romântico da menina seminua que lê Sócrates, a própria Djin Sgazerla como uma das atrizes do filme personifica esse resgate, essa homenagem ou diálogo com o passado. É isso que torna o filme brilhante, essa miscelânea, a ousadia, o experimentalismo na cena de justaposição. Uma outra coisa muito importante é o fato de Reichenbach conseguir usar o brega e falar do brega sem ser brega, ele fez com tanta elegância e despreendimento que conseguiu tornar o brega numa outra coisa, muito menos agressiva e burra do que costuma ser. Aplausos. É o que merece Falsa Loura. Muitos aplausos.
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