vendredi 17 août 2007

Nada a temer:"Cansei" é o jeito Regina Duarte de encarar o mundo

Extraído da excelente revista NovaE http://www.novae.inf.br

Cartas dos Arrais, por Manoel Fernandes Neto

Não devemos mais temer, o movimento Cansei, enfim, disse a que veio. Hebe Camargo, Ana Maria Braga e Regina Duarte representam um mundo velho sem conexão com a realidade em rede. E por isso é o fim. Reputação. A palavra chave.

É o fim do movimento, também, porque qualquer ação desta natureza requer uma coesão forte o que os cansados não conseguem nem entre seus pares. Não há movimento que resista ao oportunismo. Oportunismo que não mediu esforços em vampirizar a dor de famílias que sofriam perdas. Oportunismo que ainda acha que basta estar em um meio de comunicação de massa para exercer algum tipo de liderança e influência. A massa passou do ponto. O que conta são os micromercados. As comunidades. O ponto a ponto.

Quem não tem um mínimo de auto-crítica pra perceber o que a ótima atriz Regina Duarte representa no pensamento de uma nação que transforma não está capacitado para organizar qualquer tipo de movimento. Grande ou pequeno. De elite ou do povo.

O "Cansei" foi derrotado pelo jeito Regina Duarte de encarar o mundo:

A serviço do João Dória
Fazendo escola no movimento dos cansados.

Agora eu cansei

Eu quase não leio política. Calhou de as duas da manhã eu estar navegando na internet e ler sobre o movimento Cansei.

AGORA QUEM CANSOU FUI EU. Eu sou pobre mas bem informada. Não estou sentindo no bolso e não estou vendo por aí sinais dessa tal crise brasileira que essa galera RICA anda exaltando por aí. Talvez esse movimento entre pra história como o movimento mais ridículo do novo século. Um bando de rico que vive em outro planeta. Porque com certeza nos dias deles não existem problemas.

Eu é que Cansei. Nunca me liguei nessa gente. Acho a Regina Duarte um saco, a Hebe e a Brega idem. E A IVETE é o Travesti que não deu certo.

Desculpe, mas eu quero realmente ofender essa gente ridicula. Numa revolução francesa eles perderiam as cabeças.

Ivete, aproveita pra calar a tua boca e as tuas músicas merdas. E mostra logo que tu tem é um peru entre as pernas e vai pra outro mundo. CANSEI de TI. Vai rolar a tua cabeça. Bicho feio. Por que ela me incomoda? Porque de todas as outras merdas citadas acima quase nem lembro da existencia delas. Nunca assisto tv. Mas a porra dessa cantora está sempre tocando por aí, no vizinho, na rua. Então, é ela que preciso combater.

Crime perfeito

A primeira vez que ele me disse, Gorda. Fiquei puta. Parei de comer doces e pão. Estava fraca, vivia enjoada. Há quatro meses não trasávamos. No trabalho uma mulher me irritava, meu cabelo estava caindo por causa de uma escova progressiva de oitenta reais. Foi muito barata, fiz num salão vagabundo com um travesti. Minha cabeça ardeu e o cabelo nos quatros primeiro dias ficou lindo mas depois começou a sair no pente como linha velha de roupa podre. Estava magra demais e cheia de problemas. Minha menstruação atrasou dias, meses e daí comecei a comer loucamente, doces, salgadinhos, macarão e ele me disse, você está ficando gorda. Eu estou grávida! Eu estava grávida e não me toquei. Deixei rolar, tudo deixei rolar, a porra do trabalho, ele, a comida e a menstruação atrasada. Eu não podia ter filhos e por isso quase nunca usava camisinha. Ele era o meu marido, é o meu marido. Por que camisinha? Já não trasávamos. Estava gravida de cinco meses. A barriga ficou pontuda, eu saí fora do trabalho e as coisas se acalmaram. A gravidez deixa a mulher mais serena, filosofava. A gravidez faz um homem amar mais a mulher. A vida perfeita do lar, lavar, comer, cozinhar e ver tv. Hoje, aos oito meses de gravidez me sinto estranha. Estou gorda, muito mais que era pra estar mesmo estando grávida. Ele recebe telefonemas e vai pra cozinha e depois sai. Eu grito puta. Ele me chama de imbecil. Na madrugada de 5 de maio eu apareci morta no chão da sala com a barriga pontuda pra cima. A casa tinha sido revirada. Ele chamou a polícia e chorou muito. A morte redime as pessoas e traz o amor. Filosofei do céu. Morri dormindo, tranquila. Não vi quase nada. Ele chegou junto com o bandido, um provavel imigrante ilegal que queria assaltar a nossa casa. Ele ainda chora, eu estou no purgatório e agora não filosofo sobre nada. Conclui e a policia tambem concluiu que foi ele quem me matou. Na hora em que ele chegou, veio até o quarto, me esfaqueou três vezes no peito. Eu dormia, senti a pontada e vi ele me olhando. Tinha esquecido, no céu você esquece de tudo. Até que você chega no purgatório e se lembra. Espero que na prisão ele assista a barriga dele crescer, um dia antes de morrer, coloquei uma lombriga na comida dele.

* a parti de um fato real. na Italia um marido assassinou a própria mulher grávida e tentou simular que tinha sido um assalto mas uma semana depois foi descoberto.

Balança

o cigarro não mata a fome
a minha barriga me mata no espelho
três, apenas três, seria bom

Uma nuvem cigana leu a minha mão

No caldo do vidro derretido
meus dedos congelados se movem
o ar passa entre
tudo se move
eu corro e fico parada
serena assisto os dedos caírem um a um
o pensar foi
ainda estou aqui
na cozinha fazendo um café